Entenda como o amor gratuito de Deus trouxe a salvação ao homem por meio da cruz de Cristo
“Ele, que foi entregue pelo conselho determinado pela presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o pelas mãos de ímpios.” (At 2.23.)
O processo que culminou na sentença da morte de Jesus estava eivado de muitos e gritantes erros. As autoridades judaicas tropeçaram nas suas próprias leis e atropelaram todo o processo no mais importante julgamento do mundo. Tanto a sua prisão no Getsêmani como seu interrogatório diante do Sinédrio revelaram grandes deficiências na condução do processo. Na verdade, as autoridades já haviam decidido matar Jesus antes mesmo de interrogá-lo (Mc 14.1; Jo 11.47-53). Elas haviam decidido fazer isso depois da festa da Páscoa, para evitarem uma revolta popular (Mc 14.2). A atitude de Judas de entregar Jesus, porém, adiantou o intento deles (Mc 14.10,11). O processo, assim, não passou de um simulacro de justiça desde o princípio até o fim, pois não tinha outra finalidade senão dar uma aparência de legalidade ao crime já predeterminado. As leis judaicas não permitiam um prisioneiro ser interrogado pelo Sinédrio à noite. No dia antes de sábado ou de uma festa, todas as sessões estavam proibidas. Nenhuma pessoa podia ser condenada senão por meio do testemunho de duas testemunhas, mas eles contrataram testemunhas falsas. O anúncio de uma pena de morte só podia ser feito um dia depois do processo. Nenhuma condenação podia ser executada no mesmo dia, mas eles sentenciaram Jesus à morte durante a noite e logo cedo o levaram a Pilatos para que este lavrasse sua pena de morte. A reunião do Sinédrio que sentenciou Jesus à morte foi ilegal, uma vez que ocorreu à noite, e o método usado também foi ilegal, visto que eles ouviram testemunhas contra Jesus. John Stott, em seu livro A cruz de Cristo, diz que Jesus passou por dois julgamentos: um eclesiástico e outro civil. O primeiro aconteceu nas mãos dos judeus; o segundo, nas mãos dos romanos. No tribunal judaico, apresentou-se uma acusação teológica contra Jesus: blasfêmia. No tribunal romano, a acusação era política: sedição.
Os judeus o acusaram por se identificar como Filho de Deus, e os romanos o acusaram por se identificar como rei dos judeus. Assim, acusaram Jesus de delito contra Deus e contra César. Tanto no tribunal judaico como no romano, seguiu-se certo procedimento legal: 1) a vítima foi presa; 2) a vítima foi acusada e interrogada; 3) chamaram-se testemunhas; 4) então, o juiz deu o seu veredicto e pronunciou a sentença. Mas Jesus não era culpado das acusações, as testemunhas eram falsas, por isso a sentença de morte foi um horrendo erro judicial.
Tanto o julgamento judaico quanto o romano tiveram três estágios. O julgamento judaico foi aberto por Anás, o antigo sumo sacerdote (Jo 18.13-24).
Em seguida, Jesus foi levado ao tribunal pleno para ouvir as testemunhas (Mc 14.53-65), então, na sessão matutina do dia seguinte, para o voto final de condenação (Mc 15.1). Jesus foi, então, enviado a Pilatos (Mc 15.1-5; Jo 18.28-38), que o enviou a Herodes (Lc 23.7-12), que o mandou de volta a Pilatos (Mc 15.6-15; Jo 18.39-19.6). Pilatos atendeu ao clamor da multidão e entregou Jesus para ser crucificado. É importante ressaltar, porém, que Jesus foi para a cruz não apenas porque os judeus o entregaram por inveja, ou porque Judas o traiu por dinheiro, nem mesmo porque Pilatos o condenou por covardia. Cristo foi para a cruz porque o Pai o entregou por amor (Rm 8.32). Cristo foi para a cruz porque ele se entregou a si mesmo por nós voluntariamente (Jo 10.18; Gl 2.20), não levando em conta a ignomínia da cruz pela alegria que lhe estava proposta, a alegria de conquistar-nos com seu amor e salvar-nos por sua graça (Hb12.2). Destacamos três verdadeiras preciosas sobre a morte de Cristo:
1. Ela foi decidida na eternidade, e não no tempo (Ap 13.8).
A morte de Cristo não foi um acidente; foi uma agenda. A cruz estava incrustada no coração de Deus antes de ser erguida no Gólgota. O Cordeiro de Deus foi morto desde a fundação do mundo. Na mente e nos decretos de Deus, a morte de Cristo já estava lavrada desde a eternidade. Cristo não foi arrastado à força para a cruz; ele nasceu para morrer (Jo 12.27). Ele caminhou para a cruz como um rei caminha para a sua coroação. Na sua morte, Cristo estava glorificando tanto a si mesmo (Jo 12.23) como ao Pai (Jo 17.1). O menino da manjedoura estava destinado a ser o homem de dores da cruz.
2. Ela foi voluntária, e não constrangida (Gl 2.20).
Jesus não foi preso; ele se entregou. Jesus não foi apanhado pela força dos soldados; ele se entregou (Jo 18.4-8). Ninguém tirou sua vida; ele espontaneamente a deu (Jo 10.18). Ele nos amou e a si mesmo se entregou por nós (Gl 2.20). Não foram os homens maus que estiveram no controle da situação quando ele suportou o suplício da cruz. Ele mesmo se rendeu, e o Pai mesmo o feriu (Is 53.1-12). Afirmamos, portanto, alto e bom som, que não foram os sacerdotes, nem Judas, nem Pilatos, nem mesmo os soldados que levaram Cristo à cruz, mas foi o Pai que entregou por amor (Rm 8.32)!
3. Ela foi vicária, e não um martírio (1Co 15.3).
Cristo não morreu como um mártir; ele morreu como redentor da humanidade (1Co 15.3). Ele morreu para salvar todo aquele que nele crê. Ele morreu como nosso fiador e representante. Ele morreu como Cordeiro substituto. Ele suportou o castigo que nos traz a paz. Ele morreu a nossa morte para nos dar a sua vida. Sua morte satisfez plenamente as demandas da lei e da justiça divina. Ele morreu morte vicária, para nos dar a vida eterna.
Fonte: Lagoinha
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