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“Mudaste o meu pranto em dança, a minha veste de lamento em veste de alegria.” (Sl.30.11.)
Estamos vivendo dias de calamidade. É assustadora a seqüência de fatos catastróficos que têm acometido o mundo, e por último, o Rio de Janeiro. São milhares de pessoas consumidas por terremotos, tsunamis, enchentes e deslizamentos, tudo num espaço aproximado de três meses. Alguns podem pensar que o fim está próximo.
Na verdade, desde a Bíblia há inúmeras referências acerca do tempo do fim. Algumas dessas referências parecem considerar que o início do fim já era ali, no próprio período bíblico. As evidências sempre estiveram aí, e creio que, de alguma maneira, Deus se comunica com os homens através de incidentes e acidentes naturais. Mas na mesma medida que Deus se comunica com o homem a todo tempo, e através de tudo o que acontece. Deus jamais parou de falar.
No entanto, mais importante que compreender a natureza da catástrofe é extrair dela lições transformadoras para a nossa vida e para nossa caminhada como igreja. Os caracteres chineses comunicam muito, e geralmente são formados de subcaracteres. A palavra crise, em chinês, combina dois conceitos, a saber: abismo e oportunidade. Podemos fazer da calamidade aquilo que quisermos – consiste numa decisão.
A calamidade é um momento propício e nobre para revermos nossa teologia. Na catástrofe, aquilo em que cremos é confrontado. Tragédia é tempo de repensarmos nossa linha de pensamento e a visão que temos acerca de Deus e do sagrado. Por vezes, sentimo-nos seguros demais na religião, e as grandes devastações são maneiras que Deus encontra de nos dizer, outra vez, que somos pó. Precisamos dele. Não há nada em nós que nos faça maiores que aqueles que morrem soterrados. Necessitamos dEle mais do que do ar que respiramos.
Portanto, a devastação pode servir de revelação. Na tragédia, podemos adentrar novamente os átrios da graça. É através das turbulências que Deus nos comunica o conceito mais central e original de toda a teologia e transcendência – a idéia de que Ele já fez tudo, e de que não há nada que precisemos ou possamos fazer. Nossa vida é nada, e como verdadeiros “nada cósmicos” precisamos prosseguir. Nosso orgulho e auto-suficiência são confrontados em tempos de calamidade.
Ainda, a catástrofe é uma oportunidade para averiguarmos como estão nossas prioridades espirituais, como está nossa vida pessoal com Deus. É tempo de avaliarmos no que é que temos investido. Quando poupados da calamidade, temos a chance de voltar ao Senhor. Vimos isso no Haiti. Presenciamos testemunhos de pessoas que afirmaram ter sido o terremoto um presente de Deus, visto que através do pânico elas viram Jesus. Milhares se converteram em função da tragédia. Oramos para que o mesmo ocorra no Rio de Janeiro.
Por último, considero que, na catástrofe, eu tenha uma oportunidade verídica para avaliar se minha vida é ou não frutífera diante de Deus. Tenho vivido como Ele me criou para viver? Tenho servido tanto quanto Ele me chamou para servir? Com o que tenho me comprometido?
A igreja tem uma tarefa inquestionável em tempos de grande tribulação. Pastores haitianos têm sido constantemente procurados em busca de respostas. No Rio, igrejas servem de abrigo. Para a glória de Deus, a calamidade torna-se em oportunidade de produzirmos, de sermos frutíferos.
Precisamos de gente comprometida nessa hora. Nossas prioridades precisam ser revistas. O tempo que investimos discutindo os “por quês” teológicos da catástrofe podem ser determinantes na alimentação de uma criança desnutrida, ou na devolução da dignidade de uma família desabrigada. Precisamos, portanto, rever a natureza do nosso comprometimento, e a tragédia pode ser nossa grande chance para tal. Estamos comprometidos com o que? Com a manutenção da “sã doutrina”? Quanto tempo perdemos “defendendo Deus”? Deus precisa mesmo de advogados? Ou nosso chamado é para manifestar o Reino?
Na tragédia, repensamos nossa efetividade, a eficácia do nosso comprometimento. Nossa forma de ser igreja, de cultuar, de programar, de agendar, é efetiva na hora da calamidade? É com humildade que precisamos fazer tal exercício.
Um texto bíblico esclarecedor nesse sentido é o de Lucas 13.1-9. Naquela ocasião, Jesus é questionado acerca de uma tragédia. Pilatos mandara misturar o sangue de alguns idólatras galileus com o produto de seu próprio sacrifício. Jesus afirma que tais pessoas não eram mais pecadoras do que as que não morrem assim. E convida aqueles “teólogos de plantão”, “caçadores de respostas”, ao arrependimento.
Em seguida, o próprio Cristo menciona outro ocorrido – a torre de Siloé, ao cair, dizimara 18 pessoas. Trágico. Mas Ele afirma que todos morreriam de maneira calamitosa, se não se acertassem com Deus. É enfático que há calamidade mais calamitosa que a tragédia ou os acidentes: a morte sem Deus!
Por último, Cristo relaciona a calamidade com a vida infrutífera. Ele conta a parábola da figueira que não produz, que ocupa espaço na terra e que merece ser cortada. O lavrador intercede, pedindo que mais um ano lhe seja concedido. Ele se propõe a adubar e cuidar da árvore, para que esta possa produzir. E esse prazo é dilatado; a oportunidade é concedida.
Na tragédia, Deus concede nova chance de frutificarmos. A calamidade é tempo da igreja dobrar-se diante de Deus e questionar honestamente onde e como temos investido nossas vidas e caminhos. Certamente, Ele haverá de adubar-nos e preparar-nos para um novo projeto.
Em tempos de pânico, Deus está. A calamidade é inevitável – Ele disse que teríamos aflições (João 16.33). Mas Ele também disse que estaria conosco todos os dias, incluindo os dias mais trágicos (Mateus 28:20). Tornemos, pois, a calamidade em uma nobre chance de rever conceitos, prioridades e valores. Que Deus tenha misericórdia de nós!
Fonte: Lagoinha

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